14 de abril


Diário de Bordo, 14 de abril de 2009 - ouvindo nada


Para os de estomago fraco (né Tizi?) sugiro que não leem isso. Porque algumas experiências foram mau sucedidas:


19: 25: Segunda-feira, aula de matemática com o Marcélio. Eu, a Tizi e o Dani conversavamos sobre o SAS, foi quando Daniel, com sua mente suja, gozou com uma das palavras que ela havia falado. Como achamos muito feio o que ele falou, resolvemos nós duas batermos na cabeça dele. Foi quando por algum motivo (Deus quis assim) a Tizi cravou a sua respectiva lapiseira com toda a força na palma da minha mão. Eu dei um grito rouco mas alto o suficiente para Tizi e Daniel perceberem o que havia acontecido. O grafite da lapiseira da Tizi havia entrado profundamente na minha mão. Na hora achei engraçado, apesar da dor. Tentei tirar com a mão mesmo, espremendo como se fosse espinha, mas parecia muito mais fundo do que eu imaginava. Tizi não queria nem ver o estrago, e Dani, muito querido, ria da minha mão grafitada o tempo todo.

Resolvi ir ao banheiro do colégio, me tranquei no banheiro e fiquei espremendo, até que quando já estava na superfície, eu suguei pra fora a ponta. Acabei sugando sangue junto mas tudo bem. Não que eu seja vampira nem nada, mas não era a primeira vez que eu sentia o gosto do sangue na minha boca. Voltei pra sala com uma ponta preta na mão achando que tudo havia acabado tranquilamente. Mas algo dizia que não seria só aquilo. Brinquei no recreio com a Tizi que ela seria a culpada se minha mão apodrecesse. Ela não queria falar sobre o assunto porque achou aquilo tudo muito nojento e horrível (imagine se fosse na mão dela). Voltei pra casa e contei o ocorrido para minha mãe. Ela achou aquilo muito engraçado e disse que isso é que da querer bater nos outros. Passei o dia pensando naquilo. Quando de noite, antes de dormir, depois de pensar bastante naquela mão. Falei pra mãe que havia uma pontinha do grafite que não havia saido ainda. Ela começou a se assustar (escandalosa do jeito que ela é) e foi falar com o pai, disse que ele conseguia tirar rapidinho. Meu pai é bastante conhecido por tirar bichos de pé com muita habilidade, então minha mãe achou que perfurar minha mão com uma agulha também deveria ser. Ele pegou a agulha e foi fazendo seu trabalho. Eu segurava no sofá, nas almofadas, no braço do pai, em qualquer lugar. Segurava minha dor.


Desde pequena sou conhecida na minha família por ser forte. Não forte de físico. Forte de aguentar as dores mentais e fisicas. Principalmehte as fisicas. Quando era criança havia pegado bicho de pé e meu pai foi la tirar com sua querida amiga agulha. Eu sobrevivi e segurei meu choro bastante tempo. Isso é o que conta minha mãe, porque eu não lembro de nada. Sim, eu tinha 2 anos de idade, não deveria me lembrar mesmo. Já quebrei meus dedos uma vez também e apenas dei um grito rouco quando aconteceu. Nada mais que isso. Fui no médico tranquilamente. Já cortei meu queixo duas vezes. A primeira foi bem mais dolorido e profundo e eu tinha cinco anos. Chorei bastante. Na segunda vez apenas cheguei pra minha mãe com o queixo sangrando dizendo que precisava de um papel higienico rapido. Fiquei até feliz porque depois fui comer no mc. Já cai de arvore muitas vezes, já raspei o joelho e me cortei em varios lugares sem nunca ter chorado pra passar um alcool ou algo do tipo. Quando ia tomar vacina, ficava parada, tranquila e saia de lá completamente igual do jeito que entrei, calmamente. Minha mãe disse que é mais uma das mil coisas que herdei do meu pai, a tranquilidade e a força perante a dor fisica. Eu sempre achei tudo muito dolorido (sim, eu sinto dores) mas não mostrava. Eu seguro o meu choro e mostro que sou forte o suficiente, e que não vai ser uma dor fisica que vai me abalar.


Ontem não foi bem isso que aconteceu, depois que aconteceu a tortura. Meu pai parou porque disse que já estava na hora de dormir. Mas eu sei bem o que ele pensou, que estava fundo demais, ia ser dificil de tirar e que ele ia tentar de novo outra hora. Custei a dormir, como a dias não acontecia mais. Acordei percebendo que a mão já cicatrizava do buraco que meu pai havia feito na noite passada. E isso não podia acontecer, se cicatrizasse meu pai ia ter que cavocar mais ainda dos lados para poder ver melhor o grafite. Passei a aula toda preocupada, na aula de português, não conseguia fazer a redação (o que é bem anormal de acontecer). Não pensava nela, pensava apenas no buraco que eu tinha na mão. E chorei, O meu choro silencioso (sou craque nisso). Tentei desabafar com a Tizi, mas ela não queria nem ouvir falar do assunto. A Camila tentou me ajudar falando da mãe dela e sobre ir no médico. Que ele ia resolver o problema de um jeito bem menos dolorido. Voltei pra casa e passei a tarde preocupada com a hora que meu pai chegasse em casa. Eu poderia dizer que não, que queria ir no médico. Mas ele diria que era bobagem, que ele podia fazer aquilo ali mesmo, em casa. Na sala com uma pinça, um pedaço de papel higiênico (para limpar o sangue) e uma agulha. Eu apelei pra tudo, disse que eu pagaria o médico, bati no braço dele e pedi pela mãe. Ele começou a rir da minha criancice e disse que não ia mais fazer nada. A mãe estava trabalhando e chegaria no máximo dali a uma hora. Quando ela chegou, não tive coragem de dizer, queria adiar o máximo. Fui tomar banho agora a pouco e chorei, chorei, chorei, mas chorei muuuuuito. O banho é um lugar bom pra chorar. Cheguei aqui no quarto e percebi pela primeira vez na vida que eu sofro de ansiedade. Nunca pensei que chegaria a esse ponto. Mas eu sou uma pessoa bastante ansiosa. Eu pensava sempre que o que tiver de ser será e nunca pensei muito no que eu fazia. Deixei tudo acontecer e fiz aquilo que devia ser feito (talvez nem quase tudo). Mas agora estou tremendo de ansiedade. Não sei o que vai acontecer apartir de agora. Eu posso sair por essa porta agora, contar pra mãe tudo isso e ela dizer que então vai me levar no médico ou pode dizer que isso é tudo bobagem de uma garota que está com medo da dor. Mas eu não quero mais sessão de tortura. Mas também não quero esse grafite enterrado dentro de mim. A sensação de você olhar para as suas duas mãos e ver que você tem um defeito em uma delas é a coisa mais horrivel que eu poderia sentir. Eu quebraria meus dedos centenas de vezes para não ter que passar por tudo isso. Eu cheguei a sonhar noite passada que o grafite tinha caido sozinho. Mas acordei de manhã me sentindo terrível por ele ainda estar ali. Agora olho bem para a minha mão e para esse ponto preto la no fundo, no meio de vermelhidão e um pouco de pus e estou chorando de novo, que ótimo.

Quero só ver a reação da minha familia ao descobrir que tenho uma ponta de grafite enterrado na minha mão.

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